
Do Quênia à África do Sul, as montadoras chinesas de veículos elétricos estão intensificando os investimentos na África, uma medida que acelerará a transição do continente rumo à mobilidade limpa e ao desenvolvimento sustentável, segundo os especialistas, citados pelo China Daily.
A gigante chinesa de veículos elétricos BYD anunciou recentemente planos para quase triplicar sua rede de revendedoras na África do Sul até o próximo ano, buscando expandir sua participação de mercado no país africano, de acordo com Steve Chang, gerente-geral da BYD na África do Sul.
Chang disse que a empresa planeja aumentar o número de revendedoras na África do Sul para 20 até o final deste ano e pretende expandir ainda mais sua rede para 30 a 35 concessionárias até o final do próximo ano. A empresa está, atualmente, implementando sua estratégia de motores híbridos e elétricos, com seis modelos disponíveis no mercado local.
Além da África do Sul, a BYD está também ampliando sua presença na região do Leste Africano. Atualmente, a montadora chinesa está colaborando com a BasiGo, que fornece soluções de ônibus elétrico na África subsaariana baseada em Nairóbi, capital do Quênia, para combinar a expertise chinesa em veículo elétrico com montagem, financiamento e infraestrutura renovável do Quênia.
A BYD estreou no Gabão em junho de 2025, em parceria com a revendedora local LOXEA (subsidiária do grupo CFAO), realizando um evento de lançamento da marca em Libreville, capital do Gabão.
Com mais de 85% de cobertura florestal, o Gabão é referência ambiental no continente e está acelerando sua transição para uma economia verde.
"A escolha da BYD pelo Gabão é estratégica", destacou Marc Hirschfeld, CEO da CFAO Mobility. "A política ambiental local está alinhada com a visão da marca de 'reduzir 1ºC no planeta'. Pretendemos usar nossa rede africana para promover o modelo gabonês em toda a África Ocidental."
A BAIC, outra montadora chinesa, está firmando parceria com a Alkan Auto, uma subsidiária do Egyptian International Motors Group, para estabelecer uma nova fábrica no Egito, que deve entrar em operação até o final deste ano.
A nova fábrica de montagem de veículos elétricos está alinhada com a ambiciosa meta da BAIC de produzir 50 mil unidades por ano em cinco anos, mirando mercados em todo o continente africano.
"A China é uma importante fornecedora de veículos elétricos para a África, já que as marcas chinesas de veículos elétricos estão se tornando cada vez mais populares entre os consumidores africanos", disse Dennis Wakaba, consultor da Associação de Mobilidade Elétrica do Quênia.
Wakaba enfatizou que aproveitar a tecnologia chinesa de veículos elétricos é vital para o Quênia e para o continente africano em geral, a fim de promover a transição para a energia renovável na mobilidade elétrica.
De acordo com um relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, sigla em inglês), o setor de transportes é responsável por cerca de 24% das emissões de dióxido de carbono provenientes da combustão de combustíveis da África.
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente estimou que, com a descarbonização dos sistemas de transporte e energia, o continente poderia evitar 200 mil mortes anuais até 2030 -- um número que poderia subir para 880 mil até 2063, além de reduzir as emissões de CO2 em 55% e as emissões de metano em 74%.
Portanto, é essencial desenvolver a indústria de veículos elétricos localmente, já que os países africanos estão entre os mais afetados pelas mudanças climáticas, disse Wakaba.
"Os veículos elétricos podem reduzir significativamente as emissões locais, especialmente considerando que a geração de energia a partir de combustíveis fósseis é uma das maiores fontes de emissões", disse Stephen Dyer, sócio e diretor-gerente da AlixPartners, uma empresa global de consultoria empresarial.
"A África apresenta uma oportunidade de crescimento de longo prazo para a indústria automotiva, apesar de seu mercado atualmente pequeno. Dada a presença de longa data da China no continente por meio de várias empresas e produtos, ela está bem posicionada para desempenhar um papel significativo na expansão do mercado automotivo da região", disse Dyer.
Ele observou que os fornecedores chineses de baterias lideram o mercado global de baterias de íon-lítio para automóveis, graças à sua escala e experiência. Ao mesmo tempo, as montadoras chinesas estão avançando rapidamente na condução autônoma e no software para veículos inteligentes, com mais da metade de sua força de trabalho de engenharia dedicada ao desenvolvimento de software.
"As marcas chinesas de veículos elétricos são particularmente fortes em termos de carros inteligentes, incluindo cabines inteligentes e sistemas avançados de assistência ao motorista. Elas também oferecem designs atraentes e desempenho mecânico sólido a preços relativamente acessíveis, o que ajuda a atrair os consumidores africanos", disse Dyer.
As vendas de carros elétricos na África mais que dobraram em 2024, atingindo cerca de 11 mil unidades, mas ainda representavam menos de 1% do mercado total de veículos do continente, de acordo com o relatório "Global EV Outlook 2025" da IEA.
Com o apoio adequado dos governos locais para a infraestrutura de recarga e incentivos para veículos elétricos, os fabricantes chineses de veículos elétricos poderiam desempenhar um papel significativo em ajudar as nações africanas a cumprir suas metas de descarbonização, acrescentou ele.