Ministro da Defesa chinês denuncia “lógicas hegemónicas” em curso no mundo

2025-09-19

Segundo o jornal em Língua portuguesa de Macau - PONTO FINAL, de SEX 19 DE SETEMBRO DE 2025, na pág. 7

 

O ministro da Defesa chinês, Dong Jun, garantiu ontem que o país é contra as lógicas hegemónicas”que“estão em curso no mundo”, num contexto de crescente rivalidade com os Estados Unidos.

 

“A história deve servir como um lembrete permanente para identificar e nos opormos às lógicas hegemónicas e aos atos de intimidação dissimulados sob uma nova forma”, disse Dong, diante de várias centenas de oficiais militares e civis e especialistas chineses e estrangeiros reunidos em Pequim para o Fórum Xiangshan, a maior conferência dedicada à China em questões de defesa e segurança.

 

O ministro salientou que o seu discurso coincidia com o aniversário do incidente de Mukden, um falso atentado orquestrado pelo exército japonês em 1931 para justificar a invasão do nordeste do território chinês. Estes acontecimentos são vistos na China como uma humilhação histórica.

 

O ministro alertou para as “novas ameaças” que pesam sobre a paz, num contexto de tensões geopolíticas e de competição em todas as frentes com os Estados Unidos. “As nuvens que constituem uma mentalidade de Guerra Fria, o hegemonismo e o protecionismo não se dissiparam”, afirmou Dong, sem citar explicitamente os Estados Unidos.

 

O ministro abordou a defesa dos interesses marítimos da China, num momento em que antigas disputas de soberania territorial e atritos abundam nas águas regionais, num contexto de concorrência com o sistema de alianças dos Estados Unidos. “A suposta liberdade rante delegados da Defesa de vários países. de navegação defendida por alguns países fora da região e a suposta arbitragem internacional invocada por algumas partes desafiam f lagrantemente as normas fundamentais das relações internacionais”, afirmou.

 

Ao zelar pela salvaguarda dos seus direitos e interesses marítimos e territoriais, a China “defende f irmemente a ordem do pós-guerra e o respeito pelo direito internacional”, afirmou.

 

CONSENSO PARA PROTEGER A ORDEM INTERNACIONAL

Dong Jun pediu ontem “consenso e união de esforços para proteger a ordem internacional”, durante o Fórum Xiangshan, em Pequim, o principal evento diplomático militar anual do país asiático. “Os riscos de segurança podem ser superados através da igualdade e do benefício mútuo, e juntos podemos criar um ambiente político estável para a paz e a estabilidade mundiais a longo prazo”, afirmou Dong, perante delegados da Defesa de vários países.

 

O ministro chinês instou, durante a inauguração da primeira sessão plenária do fórum, à implementação de “medidas para gerir as tensões de segurança e alcançar um desenvolvimento equilibrado”.

 

Dong destacou a importância dos “mecanismos de cooperação” no âmbito militar diante do que descreveu como “múltiplos desafios de segurança” no contexto internacional, ao mesmo tempo em que sinalizou que a China está “disposta a trabalhar com todas as forças amantes da paz para defender firmemente as conquistas da vitória na Segunda Guerra Mundial e a ordem internacional do pós-guerra”.

 

Dong acrescentou que o país está disposto a “ajudar as forças armadas de todos os países a fortalecer as suas capacidades para defender os seus direitos e interesses legítimos e assumir conjuntamente a responsabilidade histórica de manter a paz mundial”.

 

O ministro destacou ainda a importância das “consultas internacionais” e de “normas claras” em “áreas emergentes como a inteligência artificial, as profundezas marinhas e o espaço” e os seus “riscos e desafios”.

 

TAIWAN PERTENCE “INEQUIVOCAMENTE” À CHINA

O ministro da Defesa da China afirmou que “a pertença histórica e legal de Taiwan à China é inquestionável”, durante o Fórum Xiangshan de Pequim. Dong Jun afirmou perante delegados da Defesa de vários países que o Exército de Libertação Popular (ELP, o exército chinês) “nunca permitirá que qualquer tentativa separatista triunfe” em Taiwan.

 

Durante a inauguração da primeira sessão plenária do fórum, o ministro chinês acrescentou que o ELP “sempre foi uma força invencível e poderosa na defesa da unidade da pátria”. 

 

Dong indicou ainda que a China está “pronta para frustrar qualquer interferência militar externa”, numa referência velada aos Estados Unidos, principal fornecedor de armas da Taiwan e que poderia defender a ilha em caso de um ataque chinês.

 

Pequim celebra esta semana o Fórum de Xiangshan, o principal encontro anual da diplomacia militar chinesa, com delegações de mais de uma centena de países, entre os quais a Rússia, França, Vietname, Singapura, Nigéria e Brasil, e organismos internacionais.

 

Sob o lema “Manter a ordem internacional e promover o desenvolvimento pacífico”, o programa estende-se até esta sexta-feira. A agenda aborda a segurança global, as relações entre grandes potências, a Ásia-Pacífico, a resolução política de conflitos, o controlo de armamento, as novas tecnologias e a evolução da guerra, num ano marcado pelo 80.º aniversário do f im da Segunda Guerra Mundial e da fundação da ONU.

 

O fórum chega duas semanas após o desfile de 3 de setembro em Pequim, onde o Exército de Libertação Popular (ELP, o exército chinês) exibiu armas hipersónicas, veículos aéreos não tripulados (‘drones’) e mísseis balísticos intercontinentais.

 

Paralelamente, o exército chinês atravessa turbulências internas: a Força de Foguetes suspendeu recentemente vários especialistas e fornecedores por irregularidades em contratações, enquanto a Comissão Militar Central (o máximo órgão dirigente militar) divulgou em julho diretrizes para reforçar a disciplina e a integridade, após escândalos de corrupção que envolveram dois ex-ministros da Defesa.

 

O Fórum Xiangshan pretende ser o equivalente chinês do Diálogo de Shangri-La, o principal encontro do género na Ásia, organizado anualmente em Singapura. Cerca de 1.800 convidados de mais de cem países estão anunciados em Pequim para os três dias de conferência até sexta-feira. A maioria dos países ocidentais não está representada a alto nível. A representar os Estados Unidos está o adido de Defesa da sua embaixada em Pequim. 

 

Fonte: Ponto Final

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